APRESENTAÇÃO

TRAVESSIAS é uma iniciativa do Observatório de Favelas e da produtora Automatica, com a colaboração de RUA arquitetos e Redes de Desenvolvimento da Maré. O projeto tem por finalidade realizar, anualmente, uma exposição de arte contemporânea na favela da Maré, com a participação de alguns dos mais destacados artistas nacionais, além de debates, oficinas e ações educativas que tomem a mostra como sua principal plataforma. A travessia que o projeto propõe ultrapassa, contudo, a dimensão geográfica que seu título e sua localização sugerem, referindo-se também à amplitude e à diversidade das interlocuções que a arte pode travar com a sociedade.

A Maré é o maior conjunto de favelas da cidade do Rio Janeiro com mais de 140 mil habitantes residindo em 16 localidades, reunindo diferentes histórias de lutas e de afirmação de direitos. A sua construção enquanto território de referência da invenção e da fruição artística e cultural significa afirmar direitos essenciais, além de constituir um exercício no estabelecimento de relações inovadoras de convivência social para toda a cidade.

Para seus proponentes, o TRAVESSIAS deve contribuir para a superação dos estigmas de violência e dos estereótipos da carência que ainda dominam o imaginário urbano no que concerne às favelas e periferias, fazendo das narrativas estéticas expressões da complexidade sociocultural dos territórios populares na cena urbana contemporânea. Nesse contexto, um dos maiores desafios do TRAVESSIAS é, sem abdicar da posição que seus idealizadores firmemente advogam, torná-lo permeável ao caráter paradoxal da paisagem física e humana das grandes cidades brasileiras, onde a grande potência de vida que guardam ainda se cruza e se choca com irreparáveis abusos contra seus habitantes.

Levando em conta essas premissas, a quinta edição do TRAVESSIAS, com curadoria de Moacir dos Anjos não tem como objetivo representar, em um espaço expositivo que pertence ao território da Maré, aspectos específicos da complexa vida que ali se desenrola. Fazê-lo sem uma vivência alongada no local seria confirmar a frequente e demasiada pretensão daquele que vem de “fora” para exibir o “outro”, sendo escolha quase sempre fadada ao engano e à falha. Mas, tampouco quer apenas trazer, para um lugar de exposição na favela, expressões artísticas celebradas em outras partes por sua suposta universalidade, aquelas que pretensamente não mostram as marcas do tempo e do lugar em que foram criadas. Fazê-lo seria corroborar certa frivolidade que permeia o campo das artes visuais, além de confirmar, através da arte, expressões sensíveis já conhecidas e assentadas.

Evitando tanto o que é específico somente a um território como também o que se quer passar por universal, o que se pretende é organizar uma exposição no conjunto de favelas da Maré que confronte questões ou temas que estão ocorrendo, em contextos diversos, no Brasil de agora. Questões ou temas que, sejam novos ou recorrentes, apontam desigualdades sociais extremas e inspiram a criação de formas sensíveis que as desvelam e combatem: racismo e afirmação do orgulho de raça, machismo e feminismos radicais, golpes e insurreições, apagamento e ativação da memória, genocídios étnicos e sobrevivências ancestrais, segregação urbana e reinvenção de cidades, pensamentos binários e o atravessamento de gêneros e afetos. Entre outros vários.

Com o título EMERGÊNCIA, a exposição faz referência tanto à urgência do momento vivido quanto ao surgimento de imagens e gestos que confrontam as forças sociais regressivas que teimam em se manter ativas no Brasil. É composta por vozes artísticas diversas que compõem um coro dissonante de falas que tem menos a pretensão de ser ouvido como discurso organizado e mais a vontade de fazer um ruído que promova inquietação.

EMERGÊNCIA é composta por trabalhos produzidos por 16 artistas de procedências variadas e apresentados em meios diversos. São eles: Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, Clara Ianni, Daniel Lima, Gustavo Speridião, Jaime Lauriano, Jota Mombaça, Lais Myrrha, Lourival Cuquinha, Mariana Lacerda e Pedro Marques, Marilá Dardot, Paulo Nazareth, Regina Parra, Rosana Palazyan e Thiago Martins de Melo. Ao formularem respostas ao que emerge com urgência no país, os trabalhos desses artistas contribuem para a invenção de modos mais críticos e inclusivos de representar o Brasil contemporâneo.

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GALPÃO BELA MARÉ

Rua Bittencourt Sampaio, 169, Maré. Entre as passarelas 9 e 10 da Av. Brasil. MAPA.

De terça a sexta, das 10h às 17h. Sábado das 11h às 17h. Entrada Gratuita.